Paul Cézanne – Da arte tradicional às vanguardas.

Paul Césanne representa a ruptura com os modelos tradicionais da arte do século XIX e a abertura para as aventuras dos movimentos de vanguarda do século XX, principalmente o Cubismo. Sua importância pode ser medida na frase de Picasso: “Ele é o pai de todos nós.”

Vida e obra de Paul Cezanne

Paul Cézanne(1839-1906), foi  um pintor francês cujas obras marcaram a transição entre o impressionismo e as vanguardas Europeias do inicio do século XX. Nascido em Aix-en-Provence, suas raízes na pintura estiveram ligadas ao movimento impressionista, embora tenha logo se afastado das características do movimento.  Isso porque “ele não se preocupava em registrar o aspecto passageiro de um momento provocado pela constante mudança da luz solar, como defendiam os impressionistas.”(PROENÇA 2013)²

Essa mudança já é evidente em sua tela O castelo de Médan.

Castelo de Medan – Castle from Medan – Château de Médan
Cezanne, Paul
Óleo sobre tela | (1879)
Kelvingrove Art Gallery and Museum | Glasgow –
Dimensões da obra: 58 x 72 cm

Seu trabalho influenciou pintores como Matisse, Braque, Léger e Picasso, e, a despeito do grande legado que deixou aos movimentos de vanguarda, Cézanne não teve um bom inicio de carreira. Seu primeiro professor de desenho foi o monge espanhol Joseph Gilbert, quando tinha dez anos. Em 1856, aos 17 anos, ingressou na Académie de Dessein de Aix. Em 1861, sob a influência do amigo de infância Émile Zola, com o qual havia estudado no colégio Bourbon, e que a esta época já morava em Paris, Cézanne se mudou para a capital francesa, onde tentou, sem sucesso, uma vaga para Escola de Belas Artes parisiense. Após a recusa, Cézanne retornou para sua cidade natal, voltando a morar em Paris um ano depois, quando se matriculou na Académie Suisse.

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Cezanne: Influências impressionistas

Enquanto esteve na Académie Suisse, Paul Cézanne conheceu os pintores impressionistas Edouard Manet, August Renoir e Camile Pissarro, do qual se tornou amigo e pupilo, apesar das dificuldades de relacionamento. Nesse período, o artista cultivava uma grande admiração por Delacroix e Corbet, enquanto recebia influência do movimento impressionista.

Sua vasta obra compõe-se de quadros com tema repetidos, como banhistas, natureza morta e o monte de Saint Victoire, sendo que o último que lhe rendeu 60 obras e um exaustivo treinamento estético.

Sua estética mostrou-se desde cedo, inovadora e em alguns momentos, digna de assombro. Paul Césanne teve vários de seus quadros recusados no Grande Salão de Paris, vindo a expô-los somente em 1879,  no primeiro Salão dos Impressionistas, no ateliê do fotógrafo Nadar.  Apesar de pouco compreendido até então, Cézanne julgava sua arte a partir da natureza, comparando-a, segundo ele mesmo, com a criação divina.

Influências e rompimento

Entre 1861 e 1870, Cézanne desenvolveu um tipo de pintura mais sombria, com uso de cores pretas, consideradas uma afronta ao movimento impressionista. É possível que seu temperamento difícil, irascível e com tendências à depressão tenha lhe levado ao novo jeito de pintar. Um exemplo de pintura desse período é o quadro “O homicídio”, pintado entre 1867 e 1870. “A orgia” e “A tentação de Santo Antônio” são exemplos de obra que chocaram a crítica da época, por causa dos temas eróticos abordados. Entretanto, ainda nessa época, suas pinturas ganharam tons mais claros, muito certamente por causa da influência de Pissarro, já que o próprio Cézzanne se consideraria seu aluno.

Seus traços se diferenciavam dos artistas de sua época porque enquanto os impressionistas buscavam gravar na tela o momento, provocado pela constante mudança de luz solar, o que Cézanne buscava era o permanente, a estrutura íntima da natureza.

Sobre o estilo exclusivo da sua obra e o rompimento com o movimento impressionista escreve Proença:

“Essa mudança radical de concepção estética já é evidente em sua tela O castelo de Médan. Nesse quadro, os campos de cor são bem delimitados, embora persistam ainda áreas matizadas com ocre e laranja. No entanto, as árvores são concebidas com uma estrutura cilíndrica bem definida e é a diferenças entre linhas horizontais e verticais” (PROENÇA 2013)

Ao observar a obra, é impossível não notar essas diferenças. A concepção geométrica da forma, onde elementos naturais são transformados em cilindros, esferas e cones, a forma oval dos rostos, a uma radical mudança nos conceitos de perspectiva, são traços que separam definitivamente sua obra do movimento impressionista. Em Madame Cézanne em vermelho, obra madura do artista, pode-se ver com clareza as novas características.

Contribuições de Paul Cezanne e reconhecimento

É exatamente sua concepção de perspectiva que aparece a primeira grande contribuição do artista para as vanguardas europeias. A isso, que já seria um grande rompimento com o modo de fazer arte até então, acrescentou-se sua ampliação da aplicação das formas puras, que foram as bases de movimentos como o cubismo e posteriormente o abstracionismo geométrico.

A partir de 1890, sua obra ganhou valor e reconhecimento. Observou-se que, na verdade, tais obras eram o embrião de uma nova geração de artistas. Nas palavras de Picasso e Matisse, “o pai de todos nós”.

Após sua morte, em 1907, suas obras foram expostas numa retrospectiva em grande estilo no Salão de outono, em Paris. Posteriormente, em 1999, um de seus quadros se tornaria a obra de natureza morta mais cara da história. Isso porque em leilão, seu quadro “Cortina, jarro e capoteira” alcançou 60,5 milhões de dólares americanos.

Quando olhamos um quadro com a perspectiva distorcida ou uma pintura com cores que traem o olhar, nos reportamos imediatamente aos artistas modernistas. Mas, se ao olhar para tais obras e seus significados para a história da arte, fizermos a simples pergunta: Em que momento eles tiveram a ideia de pintar dessa forma?

Teremos como resposta os trabalhos de Paul Cézanne, sua audácia e suas concepções de valores artísticos, que ainda hoje influenciam e causa admiração em quem com sua obra tenha contato.

Galeria de obras citadas no artigo.